igreja
de são roque

No início do século XVI, encontrava-se neste local, junto à antiga muralha fernandina, um cemitério onde eram sepultadas as vítimas da peste. Sendo conhecidos em toda a Europa Meridional, os milagres de São Roque contra este flagelo, em 1506 o rei D. Manuel I solicitou a Veneza uma relíquia deste santo, a fim de proteger a população de Lisboa. Para a veneração da relíquia, foi construída pelos habitantes da cidade uma ermida junto ao cemitério dos pestíferos.

Em 1540, a Companhia de Jesus chega a Portugal, a convite do rei D. João III, e inicia a partir de Lisboa a sua atividade missionária, tendo escolhido o espaço da antiga ermida de S. Roque para a construção da sua primeira Igreja e Casa Professa.

Em 1553, é concedida à Companhia de Jesus a posse da ermida, procedendo-se, doze anos mais tarde, à construção da Casa Professa e da Igreja de São Roque, sede da Ordem em Portugal. No interior da atual igreja foi, logo de início, reservada uma capela lateral para o culto de São Roque, a qual foi confiada à Irmandade desta invocação. Assim, a memória de São Roque ficaria para sempre ligada à história deste local.

ONE Edifício capelas altares sacristia teto ORGÃO EDIFÍCIO A igreja foi construída no sítio da antiga ermida manuelina, na segunda metade do século XVI, sendo seu arquiteto Afonso Álvares, mestre-de-obras de D. João III.

Porém, quem terminou a sua construção foi o arquiteto Filipo Terzi, responsável pela cobertura e pela antiga fachada maneirista. A construção desta igreja teve como objetivo essencial a ação catequética da Companhia de Jesus, em conformidade com as orientações emanadas por esta Ordem religiosa.

De formato retangular, a igreja é composta por uma só nave, uma capela-mor pouco profunda, e oito capelas laterais, sendo este modelo tradicionalmente designado por "Igreja-salão". Na parte superior das paredes laterais, intercalando com os janelões, um conjunto de pinturas, de grandes dimensões, representa episódios da vida de Santo Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus, obra do pintor seiscentista Domingos da Cunha, "o Cabrinha".

De grande simplicidade arquitetónica, este templo grandioso foi construído em consonância com as recomendações litúrgicas do Concílio de Trento, sendo representativo do processo de renovação da fé católica pós-tridentina.

Caracterizada como um monumento ímpar no contexto da arquitetura jesuítica, esta igreja serviu de modelo a outras posteriormente edificadas pela Ordem inaciana, em Portugal, no Brasil e no extremo Oriente.

Em 1768, nove anos após a expulsão dos jesuítas de Portugal, a Igreja e a Casa Professa de S. Roque foram doadas, por alvará régio de D. José I, à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com todos os seus bens.
TWO EDIFÍCIO CAPELAS ALTARES SACRISTIA TETO ORGÃO CAPELAS
Capela Nossa Senhora da Doutrina Nossa Senhora da Doutrina A Capela de Nossa Senhora da Doutrina foi instituída, no ano 1612, pela denominada "Congregação dos Oficiais Mecânicos ou da Senhora da Doutrina" e iniciada em 1 de março de 1634.

A sua decoração em talha dourada, representativa do barroco "Estilo nacional", data da última metade do século XVII e inícios do século XVIII. Nela se combinam elementos importados do barroco italiano, nomeadamente as colunas salomónicas, espiraladas, ornamentadas com elementos de criação nacional, como os cachos de uvas, parras e aves fenices, bem como o retábulo em forma de portal românico. A completar a talha dourada, as paredes inferiores apresentam revestimentos de mármores embutidos, técnica decorativa de influência italiana.

Trata-se de uma manifestação artística que atinge uma exuberância decorativa em Portugal, na primeira metade do século XVIII.

Ao centro do retábulo, situa-se uma imagem de Santa Ana e a Virgem, em madeira estofada e policromada, do final do século XVII. De cada lado, imagens de São Joaquim e de Santa Ana, da mesma época.

Nas paredes laterais, observam-se nichos protegendo conjuntos de relicários em forma de bustos.

A balaustrada é em madeira de ébano, com acrotérios de mármore, ostentando o emblema da Irmandade da Doutrina, de acordo com a temática da capela.
São Francisco Xavier Como consta de uma lápide em mármore, esta capela foi fundada em 1634 por António Gomes de Elvas, um nobre de família alentejana, a quem D. Filipe I de Portugal concedeu brasão de armas. Luiz Roiz de Elvas, irmão do fundador, foi o responsável pela conclusão da capela.

A sua decoração data da primeira metade do século XVII. No centro do altar destaca-se a escultura seiscentista do grande missionário jesuíta São Francisco Xavier. As pinturas laterais, atribuídas ao pintor português José de Avelar Rebelo, representam, do lado esquerdo, "D. João III em audiência a S. Francisco Xavier", quando da sua partida para a Índia" e, do lado direito, "O Papa Paulo III no ato de enviar para Portugal os primeiros Padres da Companhia de Jesus".
Capela São Francisco Xavier
Capela São Roque São Roque Esta capela encontra-se implantada no local onde estaria situada a cabeceira da primitiva Ermida de S. Roque, anterior à construção da atual igreja. Após a sua fundação passou a ser administrada pela Irmandade ou Confraria de São Roque.

A imagem central do retábulo é do titular da igreja, em madeira estofada e policromada, do século XVII. De cada lado, duas esculturas da mesma época, respetivamente São Tiago e São Sebastião. Sobre o altar e intercalando com os castiçais da banqueta, seis esculturas em madeira prateada representam os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, e os quatro santos Evangelistas.

A pintura lateral, situada do lado esquerdo, representa a "Aparição do anjo a São Roque", executada na 2ª metade do século XVI, por Gaspar Dias. Constitui uma das melhores obras deste conceituado pintor do maneirismo português.

Os painéis de azulejos das paredes laterais são representativos da azulejaria maneirista dos finais do século XVI; a sua decoração inclui cenas relativas à vida de S. Roque, podendo observar-se, no lado inferior esquerdo, a assinatura do autor, Francisco de Matos, com a data de 1584.

Nas portas da balaustrada, em madeira de jacarandá, encontra-se representado o brasão da Confraria de São Roque.
Santíssimo A Capela do Santíssimo foi fundada em 1636, por Luiza Frois, benemérita do colégio jesuíta de Santo Antão e da Casa Professa de S. Roque. Originalmente foi dedicada a Nossa Senhora da Assunção. A sua decoração data da segunda metade do séc. XVII, início do séc. XVIII.

Ao centro do retábulo encontra-se uma imagem representando Nossa Senhora da Assunção, de grande expressão barroca.

A talha dourada é do período que antecede o "barroco nacional", designado por "protobarroco", caraterizado por uma notória contenção ornamental.

Parte das paredes laterais são revestidas com mármores embutidos, de influência italiana, obra de pedraria que foi concluída em 1719.

Nas paredes laterais encontram-se expostas duas pinturas de Bento Coelho da Silveira, de meados do século XVII, relacionadas com a temática mariana da capela, respetivamente: "A morte da Virgem (à direita) e a "Assunção e Coroação da Virgem" (à esquerda).

O pórtico em ferro, de requintada feição revivalista, foi encomendado pela Misericórdia de Lisboa no século XIX. O lampadário em prata, à entrada da capela, é uma peça de ourivesaria portuense encomendada pela Misericórdia de Lisboa, em 1877.
Capela Santíssimo
Capela-Mor Capela-mor O retábulo da Capela-mor foi construído entre 1625 e 1628. De características maneiristas, é constituído por pares de colunas coríntias, decoradas nos capitéis e no último terço do fuste, assemelhando-se estilisticamente ao das capelas de S. Francisco Xavier e da Sagrada Família.

Nos quatro nichos frontais dispõem-se as imagens maneiristas dos principais santos da Companhia de Jesus: Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, São Luís de Gonzaga e São Francisco de Borja. O nicho central é ocupado por uma escultura de Nossa Senhora com o Menino, de finais do séc. XVII. A pintura central pertence à série de sete telas seiscentistas, encomendadas pela Companhia de Jesus, as quais são colocadas ciclicamente no altar-mor, segundo o calendário litúrgico.

No intradorso do arco, em nichos laterais, vemos as esculturas do Senhor da Cana Verde, Santa Brígida, São Gregório Thaumaturgo e a Imaculada Conceição.

Paralelamente, podem observar-se quatro pinturas laterais a óleo sobre madeira, que representam Santo Estanislau Kostka e os três mártires do Japão: São Diogo, São João Mártir e São Paulo Miki.

Sob o pavimento da capela encontram-se as sepulturas de D. Fernando Martins de Mascarenhas, Bispo do Algarve de 1596 a 1616, bem como a do primeiro Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida, falecido em 1754.
São João Batista Esta capela foi encomendada por D. João V aos arquitetos romanos Luigi Vanvitelli e Nicola Salvi, em 1740, e construída entre 1742 e 1747. A 15 de dezembro de 1744, era sagrada pelo Papa Bento XIV, em Roma, tendo sido, posteriormente, armada para o sumo pontífice nela celebrar missa a 6 de maio de 1747. Em setembro desse mesmo ano, foi desmontada e transportada para Lisboa, em três naus, e assente posteriormente na Igreja de São Roque, no espaço da antiga capela do Espírito Santo.

A Capela de S. João Batista é uma obra de arte única no seu estilo, sem paralelo nem na própria Itália, pois engloba um conjunto de peças de culto de excecional qualidade artística, nomeadamente as coleções de ourivesaria e paramentaria, que se encontram parcialmente em exposição no Museu de S. Roque.

No seu revestimento encontramos diversos tipos de mármores: lápis-lazúli, ágata, verde antigo, alabastro, mármore de Carrara, ametista, pórfido roxo, branco-negro de França, brecha antigo, diásporo, jalde e outros.

Além do mármore, foram utilizados o mosaico e o bronze dourado. O quadro central e os dois laterais, bem como o pavimento, são em mosaico, trabalho artístico de grande perfeição.

O quadro central representa o "Batismo de Cristo", e os laterais, o "Pentecostes" (do lado esquerdo) e a "Anunciação" (do lado direito). As pinturas modelo dos três quadros são da autoria de Agostino Massucci, e a execução dos mesmos, em mosaico, foi trabalho de Mattia Moretti. Enrico Enuo foi o autor do mosaico do pavimento.

O arco exterior da capela é encimado pelas Armas Reais Portuguesas. As cancelas e as portas laterais, em bronze dourado, ostentam ao centro o monograma de D. João V.

O assentamento da capela foi da responsabilidade de Francesco Feliziani e Paolo Riccoli, tendo sido executada a montagem final dos mosaicos "Batismo de Cristo" e "Pentecostes", em agosto de 1752, após a morte de D. João V, ocorrida em 31 de julho de 1750.
Capela São João Batista
Capela Nossa Senhora da Piedade Nossa Senhora da Piedade Esta capela foi fundada em 1613, por Martim Gonçalves da Câmara, nela sepultado. A decoração do retábulo decorreu entre 1707 e 1716, por iniciativa da Congregação de Nossa Senhora da Piedade. Como tema central apresenta o "Calvário", cercado por uma coroa de anjos sobre um fundo em estuque pintado, representando as muralhas de Jerusalém.

Ao centro, destaca-se o sacrário, com uma pintura representando "Nossa Senhora da Soledade"; sobre ele assenta uma bela "Pietá", em madeira estofada e policromada, do século XVII. No interior do altar-vitrine situa-se uma imagem da "Nossa Senhora da Boa-Morte". No intradorso do arco da capela observam-se duas esculturas, representando São Longuinho e Santa Verónica, do início do século XVIII.

Este tipo de composição inicia em Portugal um certo gosto teatral, no campo decorativo das igrejas, marcando a transição do "barroco nacional" para um estilo baseado no conceito de "palco-plateia", originário do barroco de Bernini.
Santo António Foi instituída por Pedro Machado de Brito, que deixou legado à Companhia de Jesus, com instruções para que os seus descendentes fossem aqui sepultados, tendo ficado como sua testamenteira a Confraria da Misericórdia de Lisboa. A Misericórdia acordou com os religiosos da Companhia de Jesus que a capela fosse dedicada a Santo António e, que a obra fosse mandada executar pelos padres da Companhia, conforme a traça das outras capelas.

Tendo sido parcialmente destruída pelo Terramoto de 1755, foi depois redecorada com elementos do barroco final. O teto apresenta frescos neoclássicos do século XIX. Do retábulo original subsistem as colunas maneiristas.

No nicho central situa-se a imagem de Santo António, em madeira estofada e policromada, do século XVII.

Lateralmente, destacam-se duas pinturas setecentistas, a óleo sobre tela, do pintor Vieira Lusitano, representando respetivamente: "O Santo pregando aos peixes" e "A tentação de Santo António".
Capela Santo António
Capela Sagrada Família ou Menino Perdido Sagrada Família ou Menino Perdido Esta capela foi edificada e ornamentada pela Congregação dos Nobres, conforme consta de uma lápide na parede lateral direita. Apresenta uma decoração maneirista, sóbria e equilibrada, semelhante à da capela-mor e, consequentemente, do mesmo período.

A pintura central representa "Jesus entre os Doutores", da autoria de José de Avelar Rebelo. Lateralmente, dispõem-se duas outras pinturas do século XVII, atribuídas ao pintor André Reinoso, respetivamente a "Adoração dos Reis" (do lado direito) e a "Adoração dos Pastores" (do lado esquerdo).

Sobre o altar, encontram-se três esculturas seiscentistas, em madeira estofada e policromada, representando a Sagrada Família.
THREE EDIFÍCIO CAPELAS ALTARES SACRISTIA TETO ORGÃO ALTARES
Altar Relíquias Relíquias O conjunto de relicários, que se encontra exposto nos altares que ladeiam a Capela-mor, bem como os relicários parcialmente integrados nas paredes laterais de algumas capelas da igreja, merecem especial menção não só pelo seu valor histórico, espiritual e artístico, mas também pela sua íntima ligação à espiritualidade da Companhia de Jesus.

Grande parte dos relicários da coleção foi reunida por D. João de Borja, filho do jesuíta São Francisco de Borja, enquanto embaixador em Praga, na corte imperial de Rodolfo II.

Assim, a Igreja de São Roque, já possuidora de um notável conjunto de relíquias desde a sua fundação, vê-se enriquecida com a célebre doação de D. João de Borja, em 1588, quase todas relativas a santos e santas que viveram na Europa Central e de Leste.

Esta variedade de peças de grande valor simbólico e espiritual foi, até ao século XIX, protegida e coberta por telas que ocupavam toda a superfície dos altares, só retiradas em épocas litúrgicas importantes, para que pudessem ser veneradas pelos fiéis. Esta prática transformava-se num verdadeiro ritual na Igreja de São Roque.
Anunciação Este altar foi edificado a pedido de D. António de Castro, filho de D. João de Castro que, no seu testamento, manifestou vontade de construir nesta capela a sua sepultura, bem como a do seu mestre, o padre jesuíta Francisco Suarez, exímio professor de Teologia e de Leis na Universidade de Coimbra, falecido na Casa Professa de S. Roque, em 1617.

¬ Ao centro do altar, destaca-se uma pintura maneirista representando a "Anunciação do Anjo à Virgem Maria", atribuída ao pintor Gaspar Dias, de cerca de 1580.
Altar Anunciação
Altar da Santíssima Trindade Santíssima Trindade Altar em mármore, da Santíssima Trindade, com uma bela Pietà em madeira estofada e policromada, do século XVIII. Esta capela foi mandada construir por Gonçalo Pires de Carvalho e sua esposa, D. Camila de Noronha, para seu jazigo e dos seus familiares, conforme se pode ler na inscrição gravada no degrau frontal. Presépio No corredor que dá acesso à sacristia podemos observar, à esquerda, o pequeno Altar do Presépio, em talha dourada, onde se encontra, ao centro, o presépio-relicário, composto por cinco figurinhas em prata dourada, do século XVII. Este trabalho de ourivesaria data de 1615, e foi encomendado por D. Maria Rolim da Gama, esposa de Luís da Gama. Altar Presépio
FOUR EDIFÍCIO altares capelas SACRISTIA TETO ORGÃO SACRISTIA A Sacristia, cuja construção é do início do século XVII, apresenta três séries sobrepostas de pinturas de grande valor artístico.

A primeira série, situada no espaldar do arcaz, foi executada por André Reinoso, em 1619. Neste conjunto de 20 quadros, o pintor representa episódios importantes da vida de São Francisco Xavier, ilustrando, com grande pormenor, alguns milagres realizados pelo santo jesuíta no decurso das suas viagens missionárias no Oriente.

A segunda série, atribuída a André Gonçalves e pintada no século XVIII, inclui quadros alusivos à "Paixão de Cristo", intercalados por quadros alegóricos com frases bíblicas.

No nível superior, situam-se pinturas que representam episódios da "Vida de Santo Inácio de Loyola", o fundador da Companhia de Jesus, atribuídas ao pintor Domingos da Cunha, "o Cabrinha".

O teto é em abóbada de berço, dividido em caixotões, decorados com emblemas bíblicos alusivos à Virgem Maria, executados nos finais do século XVII.

Os arcazes são em madeira de jacarandá, pau-rosa e ébano, com embutidos de marfim, e datam do início do século XVII.
Sacristia
FIVE EDIFÍCIO altares capelas SACRISTIA TETO ORGÃO TETO O único exemplar lisboeta que resta dos grandes tetos pintados no período maneirista. A sua pintura decorreu entre 1587 e 1589, sendo da autoria do pintor régio Francisco Venegas, mestre de origem espanhola.

Pintado segundo a técnica trompe-l'oeil, apresenta três cúpulas, separadas por quatro arcos abatidos, com pintura de grotescos. Mais tarde, no início do século XVII, o pintor Amaro do Vale acrescentou à composição o grande medalhão central, representando a "Exaltação da Santa Cruz", bem como dois painéis eucarísticos situados nas faixas laterais do teto.
Igreja / Teto
SIX EDIFÍCIO altares capelas SACRISTIA TETO ORGÃO ORGÃO O órgão de tubos, construído em 1784,foi um dos primeiros instrumentos da oficina do famoso organeiro, António Xavier Machado e Cerveira. Originalmente situava-se na Igreja do Convento de São Pedro de Alcântara, tendo sido transferido para a Igreja de São Roque em 1844. Orgão